Maria Eduarda Pires, Cristian Brunelli Rovaris, Tayná da Silva Rosa e Sandro Martins Cascaes estudam Engenharia Aeroespacial na Universidade Federal de Santa Catarina e ajudaram a equipe Kosmos Rocketry nessa grande conquista na maior competição de foguetes do mundo.

Qual criança nunca quis montar um foguete em casa? É uma das brincadeiras mais lúdicas que na infância abrem um leque de sonhos e fantasias. Aliás, o espaço é uma das coisas mais fascinantes que existem e até hoje um dos principais eventos televisionados foi um lançamento de foguete. Sim, em 1969 o lançamento e a chegada do homem à Lua na Apollo 11 somou mais de 1 bilhão de espectadores. Você pode pensar que esse número é irrelevante, mas naquele ano existiam apenas 3,6 bilhão de humanos vivos.
Entretanto, nada disso seria possível sem a ciência. Você já parou para pensar em quanta pesquisa foi feita para levar o homem à Lua? É graças a ciência que uma equipe de estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) do campi de Joinville, no norte do estado, conseguiu um feito incrível. Eles ganharam a medalha de bronze na maior competição de foguetes do mundo, a International Rocket Engineering Competition (IREC) que aconteceu em Midland, Texas, na última semana (9 a 14 de junho).
😎😍🚀 Olhem o troféu “mega blaster” que eles trouxeram pro Brasil.

Desde 2006, o IREC (International Rocket Engineering Competition) acontece anualmente em Green River, UT. A competição alcançou status internacional em 2011 – quando escolas do Canadá e do Brasil se juntaram – e dobrou de tamanho a cada ano desde 2013. Em 2014, era a maior competição de foguetes do mundo em nível universitário e de faculdade, status que continua até hoje.
Está achando que é pouca coisa? Veja o vídeo promocional da competição e se surpreenda.
A equipe Kosmos Rocketry é composta por alunos de Engenharia Aeroespacial da UFSC e ficou em terceiro lugar na categoria 30K SRAD Solid da competição. A IREC tem diversas categorias que envolvem universidades de todo o mundo. Nessa categoria os brasileiros participaram com o Foguete Morpheus que é movido a partir de um combustível sólido.
Vejam o “danado” 🚀😲😲😲 no lançamento:
Para entender o desafio, veja o infográfico abaixo:
30K SRAD Solid
Decifrando o ápice da engenharia de foguetes universitária, onde cada componente é um desafio.
⬆️ O Desafio “30K”: Altitude Alvo
O primeiro pilar da competição define a meta de altitude. As equipes devem projetar seus foguetes para alcançar, com a maior precisão possível, o apogeu de 30.000 pés.
30.000
Pés de Apogeu
(~9,14 Quilômetros)
Comparativo de Categorias de Apogeu
Para colocar a categoria 30K em perspectiva, ela representa o desafio intermediário em competições como a IREC. O gráfico abaixo ilustra a enorme variação de altitude entre as principais categorias.
✈️ Para contextualizar: um avião comercial voa em média entre 30.000 e 42.000 pés, o que coloca o alvo de 30K do foguete na mesma faixa de altitude de um voo comercial!
🔬 O Fator “SRAD”: Inovação Estudantil
“Student Researched and Developed” é o que separa as equipes de elite. Não se trata de montar um kit, mas de engenharia pura. As equipes devem projetar, fabricar e testar seu próprio motor de foguete, uma tarefa de imensa complexidade que é o coração do desafio.
Projetar
Construir
Testar
Foco no Projeto
O desenvolvimento do motor SRAD consome uma porção significativa do esforço total do projeto.
🔥 A Escolha “Solid”: Tipo de Propelente
A categoria especifica o uso de um motor de propelente sólido. Esta é uma mistura de combustível e oxidante em estado sólido, conhecida por sua relativa simplicidade e confiabilidade. No entanto, existem trade-offs em comparação com outros tipos de propelentes, como os líquidos e híbridos.
O gráfico compara os tipos de propelente em vários critérios, onde valores mais altos indicam uma característica mais forte (ex: maior performance, maior complexidade).
✨ O Desafio Completo
Em resumo, “30K SRAD Solid” não é apenas uma categoria, é um selo de excelência. Exige que equipes universitárias dominem aerodinâmica, propulsão, materiais e eletrônica para construir um foguete do zero, atingir uma altitude precisa de 9,14 km e provar que a próxima geração de engenheiros aeroespaciais está pronta para decolar.
Quatro estudantes são da região Sul de Santa Catarina. Eles nos contaram coisas muito legais
De Cocal do Sul para o espaço
Maria Eduarda Pires, tem 20 anos e cursa Engenharia Aeroespacial na UFSC / Joinville.
Estudou na Escola de Educação Básica Cristo Rei em Cocal do Sul.
“O desenvolvimento tecnológico e a capacitação de estudantes em diversas áreas é o que trás possibilidade do futuro para o nosso país, desenvolvemos foguetes porque queremos trabalhar com isso ou com pesquisas em nosso futuro que são relacionados a essas tecnologias”.
Pires diz que sempre gostou de descobrir como as coisas funcionavam. Ela se formou em Mecatrônica no Instituto Federal de Santa Catarina e no seu currículo tem várias menções honrosas nas Olimpíadas de Matemática das Escolas Públicas.
Tayná da Silva da Rosa, 20 anos e cursa Engenharia Aeroespacial na UFSC / Joinville.
Estudou na Escola de Educação Básica Cristo Rei em Cocal do Sul.
Rosa diz que queria estudar mecatrônica na UFSC, mas quando descobriu que existir um curso de Engenharia Aeroespacial no campus de Joinville. Não pensou duas vezes.
“Sempre fui apaixonada pelo espaço e quero trabalhar com mecatrônica no setor espacial, desenvolver satélites, mecânicos e eletrônicos, adaptados aos ambientes extremos do espaço”.
A estudante faz parte do setor de pesquisa e desenvolvimento da equipe. Ela é uma das responsáveis pelo Payload, o satélite a bordo que carrega o Clustril – um experimento com nanotubos de carbono.
“Estudei no EEB Cristo Rei em Cocal do Sul e considero que tudo que aprendi lá foi muito útil. Participei de diversas competições como a OBMEP e ganhei muitos méritos que me ajudaram nessa jornada”.
Não importa o tamanho da cidade e sim o tamanho do sonho
Sandro Martins Cascaes, 19, cursa Engenharia Aeroespacial – UFSC/Joinville, ele é de Gravatal
Cascaes fez todo o ensino fundamental na EEB Joaquim Cardoso Duarte em Gravatal e o ensino médio na EEB Martinho Alves dos Santos (CEMAS) de São Martinho.
“Desde os 13 anos de idade eu tinha certeza que queria fazer foguetes. Pesquisava tudo sobre o assunto. Descobri que na UFSC tinha o curso de engenharia aeroespacial e essa se tornou minha meta de vida.”.
O estudante passou no vestibular da UFSC com 17 anos e ingressou no projeto da Kosmos no setor de Propulsão. Ele conta que trabalhou no projeto do motor do Morpheus que, explodiu durante os testes.
“Depois de 32 dias de trabalho tivemos esse contratempo, mas com a ajuda de uma vaquinha on-line conseguimos nos reorganizar para contruir um novo. Foi muito emocionante, incrível, ver o Morpheus voando. Nunca esquercerei esse momento”.
Criciúma também está representada na equipe Kosmos
Cristian Brunelli Rovaris, 19 anos, cursa Engenharia Aeroespacial – UFSC / Joinville
Ele nos conta que sempre teve vontade de estudar algo que poderia ter um grande significado para o futuro da sociedade.
“Parece coisa de ficção, mas estamos próximos de alcançar outros planetas e explorá-los. Essa possibilidade nunca esteve tão próxima. Temos que levar em conta o quão vasto é o universo e quão pequenos nós somos”
Rovaris entende que existe uma grande conjuntura de planetas além da terra e que o desenvolvimento de foguetes será uma grande mudança para a humanidade.
“O que a equipe Kosmos faz é apenas o começo de uma grande mudança que os foguetes podem proporcionar para a humanidade.”
O conhecimento só evolui com bons professores
Professores da EEB Martinho Alves dos Santos (CEMAS) no São Martinho comemoram o terceiro lugar da Equipe Kosmos Rocketry na IREC 2025, com a participação do seu ex-aluno Sandro Martins Cascaes.
Prof. Raad (Professor de História)
Prof. Bia Heitich (Diretora)
“Estamos muito orgulhosos do Sandro e da conquista da equipe! Essa conquista é a prova que acreditar na educação é a forma de desenvolver todo o potencial ”
Depoimento da Prof. Janaina Menezes Perez (Professora de Química)
“O Sandro sempre foi um aluno incrível, dedicado e apaixonado por foguetes. Uma vez ele trouxe para a aula química reagentes que ele utilizava como combustível dos foguetes para demonstrar para os colegas, foi bem legal.”
Desvendando o IREC: Guia Rápido da Competição de Foguetes!
O que é o IREC?
O **IREC (International Rocket Engineering Competition)** é a maior competição universitária de engenharia de foguetes do mundo! Ela reúne estudantes de engenharia e ciências de diversas universidades para projetar, construir e lançar seus próprios foguetes.
O objetivo é incentivar o interesse em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e desenvolver habilidades práticas em um ambiente competitivo e colaborativo. É uma chance de aplicar o conhecimento da sala de aula em desafios do “mundo real”!
Categorias de Voo
Os times competem para atingir altitudes específicas, o que define as categorias:
- 10.000 pés: Aproximadamente 3.048 metros.
- 30.000 pés: Aproximadamente 9.144 metros.
- 45.000 pés: Aproximadamente 13.716 metros.
Além da altitude, há a distinção pelo tipo de propulsão:
- COTS (Commercial Off-The-Shelf): Foguetes que usam motores comerciais, já prontos.
- SRAD (Student Researched and Developed): Foguetes com motores desenvolvidos e construídos pelas próprias equipes. Exige um alto nível de conhecimento técnico! A equipe brasileira UFABC Rocket Design foi campeã nesta categoria em 2025!
- Propelentes: Podem ser sólidos, líquidos ou híbridos.
O Foguete Perfeito
Não basta voar, o foguete precisa ser uma obra de engenharia!
- Design e Tamanho: Existem especificações para o diâmetro (ex: 4 a 8 polegadas) e comprimento (ex: 8 a 20 pés), garantindo que os projetos sejam desafiadores, mas dentro de um padrão. Foguetes com múltiplos estágios (partes que se separam durante o voo) são permitidos.
- Carga Útil (Payload): O foguete deve carregar um “payload” (carga útil) com peso mínimo. O mais legal é que essa carga útil precisa ser inovadora e funcional, mostrando o quanto a equipe conseguiu desenvolver uma tecnologia extra. Equipes já competiram com nanossatélites!
- Sistema de Recuperação: Essencial para o retorno seguro! Geralmente, são paraquedas que garantem que o foguete e a carga útil desçam de forma controlada, evitando danos e permitindo que sejam reutilizados ou analisados após o voo.
Segurança em Primeiro Lugar
A segurança é levada muito a sério! As equipes devem seguir regras rigorosas para garantir que ninguém se machuque e que o meio ambiente seja protegido.
- Análise de Risco: Os times precisam apresentar relatórios detalhados sobre os possíveis perigos e como eles serão controlados.
- Área de Lançamento: O local precisa ser específico e seguro, longe de pessoas, prédios e rodovias. Há distâncias mínimas de segurança que devem ser respeitadas.
- Condições Climáticas: Não se pode lançar em qualquer clima! Existem limites de vento (ex: até 30 km/h) e outras condições que devem ser seguidas para um voo seguro.
- Sistemas de Ignição: A ignição do motor do foguete é controlada remotamente, com dispositivos de segurança para evitar acionamentos acidentais.
- Cargas Proibidas: Nada de explosivos, materiais inflamáveis ou substâncias que possam prejudicar pessoas ou o meio ambiente.
Como ser um Campeão?
Ser campeão no IREC vai além de apenas lançar um foguete. A avaliação é completa!
- Precisão de Voo: Chegar o mais perto possível da altitude alvo é fundamental. Pequenas diferenças podem definir o vencedor!
- Inovação da Carga Útil: A criatividade e a funcionalidade da carga útil desenvolvida pela equipe contam muitos pontos.
- Relatórios Técnicos: As equipes precisam documentar todo o processo de design, testes e análise em relatórios detalhados. A clareza e a qualidade da documentação são avaliadas.
- Apresentações: Apresentar o projeto para um painel de juízes especialistas é parte da competição, mostrando a capacidade de comunicação da equipe.
- Conduta Profissional: O comportamento da equipe durante todo o evento, incluindo trabalho em equipe e respeito às regras, também é considerado.
Exemplo de Sucesso: A equipe brasileira UFABC Rocket Design foi campeã em 2025 na categoria SRAD Solid (motor com combustível sólido desenvolvido pela própria equipe), mostrando a capacidade dos nossos estudantes no cenário internacional!
Outro destaque brasileiro: A equipe UFSC – Kosmos Rocketry conquistou o terceiro lugar na categoria 30K SRAD Solid Motor, além de dois troféus, incluindo um pelo espírito esportivo!
Reconhecimento Internacional e o Papel Fundamental da Educação Pública
A performance da equipe Kosmos na International Rocket Engineering Competition (IREC) resultou na conquista de dois prestigiados troféus: um pela excelência na categoria e o Sportsmanship Awards, um reconhecimento exclusivo para equipes que demonstram um espírito competitivo exemplar. Este feito é ainda mais impressionante quando consideramos a magnitude do evento, que reuniu 185 grupos de 20 diferentes países, entre 9 e 14 de junho, no estado do Texas, nos Estados Unidos. O IREC é um evento de destaque, promovido pela Experimental Sounding Rocket Association (ESRA), uma organização sem fins lucrativos fundada em 2003.
Para a equipe Kosmos, a competição marcou o voo inaugural do foguete, que foi o ápice de dois anos de intensas pesquisas e desenvolvimento. Um dos maiores desafios enfrentados foi a criação do motor, que, devido à utilização de um propelente menos eficiente em comparação aos utilizados pelos concorrentes nos Estados Unidos, exigiu um design maior para garantir o empuxo necessário.
Este sucesso ressalta a importância da escola pública na formação de talentos e no impulsionamento do desenvolvimento tecnológico do país. Estudantes como os da UFSC, que se destacam em competições internacionais, são o reflexo do potencial que pode ser alcançado com investimentos contínuos e estratégicos na educação. Maria Eduarda Pires, que é analista de marketing da equipe, diz que “o desenvolvimento tecnológico e a capacitação de estudantes de diversas áreas é o que trás possibilidades de futuro para o país”. A aposta em uma política educacional que priorize o ensino de qualidade e o fomento à pesquisa e inovação em instituições públicas é um pilar essencial para construir um futuro próspero e competitivo para o Brasil.
A história da Kosmos é o resultado do que pode ser alcançado quando o talento encontra o apoio necessário em um ambiente educacional robusto. Pires finaliza afirmando que construir foguetes é parte de um processo de capacitação de estudantes. Ela explica que o desenvolvimento de pessoas não pode ser interrompido. “Não vamos resolver todos os problemas do país, mas podemos resolver os problemas que estão no nosso campo de pesquisa, se pararmos de fazer projetos que impulsionem e reconheçam o Brasil internacionalmente vamos estar apenas criando outros problemas”.
Gostou? Saiba como participar da equipe Kosmos
Primeiro Passo: Vestibular UFSC
O primeiro passo é passar no vestibular da UFSC para o curso de Engenharia Aeroespacial no campus de Joinville, um dos mais concorridos do Brasil.
Independência Financeira
A Kosmos opera sem apoio monetário direto da UFSC, pois o regulamento da IREC não permite o investimento da universidade no desenvolvimento do projeto. O desenvolvimento dos foguetes é viabilizado por doações, vendas de produtos e patrocínios.
Organização Estratégica
Estrutura similar a uma empresa, com capitão e diretores para 3 macro setores, eleitos anualmente. Gerentes são definidos por antigos gerentes e diretores.
Novos Talentos e Desafios
Processos seletivos geralmente no início dos semestres. Este ano, devido à complexidade do foguete Morpheus, o foco foi total no projeto atual.
AVISO SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:
Todos os textos dessa reportagem foram produzidos por jornalista profissional sem o auxílio de IA.
A IA foi utilizada na geração dos dois infográficos a partir de informações do site da competição. As informações foram checadas, entretanto, caso seja encontrado alguma inconsistência nas informações, você pode relatar para redacao@tubaraodigital.com.br
Conteúdo atualizado às 22h40 de 20/06/2025
