Pesquisa inédita destaca o retorno econômico para quem retoma os estudos por meio da EJA, com aumentos significativos na renda e na formalização do trabalho
Um estudo inédito, encomendado pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), aponta que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem um impacto direto e positivo na renda, ocupação e formalização no mercado de trabalho. A pesquisa, que será lançada nesta quarta-feira, 10 de setembro, no Seminário Nacional de Educação de Jovens e Adultos, busca preencher uma lacuna de dados sobre o retorno econômico para aqueles que não concluíram os estudos na idade adequada, mas voltaram a frequentar a escola. A análise oferece subsídios para embasar políticas públicas e incentivar o investimento e o acesso a essa modalidade de ensino.
A EJA é uma modalidade da educação básica que permite a jovens e adultos que não finalizaram o ensino regular na idade certa retomarem seus estudos. O estudo destaca que, apesar dos avanços no acesso à educação formal no Brasil nas últimas décadas, as taxas de reprovação e evasão escolar ainda são altas. Em 2023, por exemplo, 35 de cada 100 jovens brasileiros não haviam concluído o ensino médio até os 20 anos, o que cria um vasto público potencial para a EJA e a Alfabetização de Jovens e Adultos (AJA). Para frequentar o EJA Ensino Fundamental, a idade mínima é de 15 anos, e para o EJA Ensino Médio, 18 anos.
A pesquisa revelou que a participação na EJA, em todas as suas etapas, está diretamente relacionada a um aumento na renda dos estudantes. No caso da alfabetização (AJA), o grupo que concluiu o curso obteve um incremento médio de 16,3% na renda para a faixa etária de 18 a 60 anos. O impacto é ainda mais significativo para o público entre 46 e 60 anos, com um aumento de mais de 23%. Além disso, a AJA aumenta a probabilidade de ter uma ocupação formal em 7,7 pontos percentuais (pp) e de ter uma ocupação de qualidade em 2,3 pp, considerando todas as faixas etárias. Uma ocupação é considerada de qualidade quando o trabalhador recebe pelo menos um salário mínimo e trabalha até 44 horas semanais.
Para os estudantes que concluíram os anos finais do Ensino Fundamental pela EJA, a renda média teve um aumento de 4,6%. O estudo ressalta que esse impacto é particularmente notável para o grupo de 26 a 35 anos, com um aumento de 14,9% na renda. A conclusão dessa etapa também eleva a probabilidade de ter um trabalho formal em 6,6 pp e uma ocupação de qualidade em 3,2 pp. Esses dados demonstram que o investimento na educação de jovens e adultos não é apenas social, mas também econômico, com retornos financeiros tangíveis para os indivíduos.
No nível do Ensino Médio, a conclusão pela EJA eleva a renda mensal em 6%, em média, para o grupo de 18 a 60 anos, em comparação com aqueles que pararam no Ensino Fundamental. O maior impacto foi observado na faixa etária de 26 a 35 anos, com um aumento de 10% na renda média. A probabilidade de ter uma ocupação formal cresce 9,4 pp e uma ocupação de qualidade em 3,3 pp, com impactos positivos em todas as faixas etárias avaliadas. Esses resultados reforçam o papel estratégico da EJA como uma ferramenta para a inclusão socioeconômica e o desenvolvimento pessoal.
Fabiana de Felicio, autora do estudo, destaca que os resultados indicam um vasto potencial para a expansão da EJA no Brasil. Segundo a pesquisadora, os ganhos ao longo da vida dos estudantes parecem ser suficientes para justificar os custos de curto prazo do retorno aos estudos, principalmente para os grupos de idade mais jovens. A autora reforça que, além dos benefícios para os indivíduos, o investimento na EJA gera impactos para o desenvolvimento social e econômico local. O aumento da renda, da formalidade e da qualidade das ocupações não só melhora a qualidade de vida das pessoas, mas também contribui para o aumento da produtividade e para a redução da pobreza e da desigualdade social. A pesquisa destaca a importância de que secretários de educação e gestores públicos vejam a EJA de forma estratégica, como um motor para o desenvolvimento regional.
A pesquisa faz parte do contexto do Pacto Nacional de Superação do Analfabetismo e Qualificação de Jovens e Adultos (Pacto EJA), lançado no ano passado pelo MEC, que prevê a criação de 3,3 milhões de novas matrículas na EJA, com um investimento de R$ 4 bilhões em quatro anos. A iniciativa busca combater o analfabetismo no país, que, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, ainda afeta 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais, o que corresponde a 5,3% da população nessa faixa etária.
Fonte: Agência Brasil.
