Empreendedores “sêniores” precisam planejar os investimentos e enfrentar dificuldades para conseguir financiamentos públicos ou privados para alavancar seus negócios.
Em 2050 a expectativa de vida dos brasileiros deve alcançar 81,3 anos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) prevê que mulheres, na média, viverão mais que os homens. Elas devem viver até os 84 anos e eles até os 78 anos. Vivendo mais, a produtividade também irá avançar e dificilmente as pessoas estarão aposentadas ou sem uma atividade laboral após os 50 anos de idade.
O professor Mario Abel Bressan Junior, de 48 anos, é palestrante, escritor, publicitário e doutor em comunicação social, fala sobre o que espera da sua aposentadoria. Ser ativo é necessário para ter uma vida mais movimentada, viva e colaborativa. “Eu me vejo muito em movimento , fazendo as coisas, trabalhando, realizando projetos, porque isso que me deixa ativo”, explica.

Gerações anteriores tinham como meta a aposentadoria. Entretanto, com o envelhecimento da população, que deve ter média de idade próxima de 50 anos em 2070, o Brasil terá poucas pessoas para financiar aposentados. Dessa forma, uma pessoa com 20 anos em 2025, deverá contribuir com a previdência social por cerca de 35 anos e caso não fique desempregada poderá se aposentar em 2060.
Edla Zim, 61, escritora e empreendedora, diz que não se via aposentada sem fazer nada e que tem muitas ideias para se manter produtiva. Essa atitude é comum nos novos “cinquentões” que buscam, além do trabalho, qualidade de vida, pratica esportiva e para muitos o início de um novo negócio.
Em 2003 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Estatuto do Idoso. A lei previa garantias de direitos para pessoas idosas, já prevendo o envelhecimento da população. Já se passaram 23 anos e o conceito de pessoa idosa mudou muito nesse período. Hoje, os idosos estão mais produtivos que nunca, eles participam ativamente do crescimento do país. Entretanto, o estatuto não prevê garantias para que essas pessoas consigam empreender.
Está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 5853/23 que prevê uma emenda no Estatuto do Idoso. Caso seja aprovada, as instituições públicas oficiais de crédito e as agências de fomento, deverão implementar programas de incentivo ao empreendedorismo para pessoa idosa.
Bancos não possuem linhas de crédito diferenciadas
A reportagem do TD+ procurou instituições financeiras para saber as linhas de financiamento para empreendedores com mais de 50 anos. Os bancos responderam que não comentariam. A imagem dessas instituições está sendo questionada após denúncias de empréstimos ilegais para aposentados do INSS.
Os principais bancos brasileiros não tem linhas de crédito específicas para empreendedores +50. Com informações obtidas a partir dos sites das instituições bancárias, constata-se que existem diversas linhas de crédito e nem uma direcionada para esse público. Caso o PL 5853/23 seja aprovado, essas instituições serão obrigadas a oferecerem fomento para quem quer empreender.
Os bancos mantém páginas dedicadas que oferecem empréstimos para empresas e pessoas físicas. Acessando os links pode-se notar que o foco em pessoas +50 é nos empréstimos para aposentados.



Edla Zim é exemplo de quem resolveu empreender após os 50 anos.
A escritora Edla Zim, 61, nascida em Tubarão (SC) é empresária do ramo literário. Ela conta que ao completar 50 anos de idade foi informada pela empresa onde trabalhava que já tinha chegado ao topo da progressão na carreira em recursos humanos e que dai para o futuro ficaria estagnada no cargo.
Com mais de 40 anos de carreira ela tomou uma decisão de virada de rumo na vida profissional. Iniciou um planejamento para se dedicar a carreira de palestrante, no entanto, a pandemia de Covid-19 atrapalhou seus planos e empreender na literatura infantil passou a ser seu foco empresarial.
Dados sobre empreendedores +50:
No final de 2024, o Brasil contabilizou um recorde de 4,3 milhões de seniores donos de negócios que possuem 50 anos ou mais. O empreendedorismo sênior no país é assunto pouco divulgado e comentado. O dados da pesquisa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostra que pessoas que, em outros tempos estariam aposentadas, passaram a buscar no empreendedorismo uma nova forma de se manterem ativas na meia idade.
Pesquisa realizada pelo SEBRAE e com informações da PNAD Contínua, mostra que o empreendedorismo sênior cresceu 53% em 12 anos (2012 – 2024). A maior parte são donos de pequenos negócios e tem forte presença de mulheres e negros.

Importância de planejamento para prevenir fracassos
Edla Zim fala que a decisão de empreender não pode ser de qualquer jeito. Ela explica que é preciso planejar o que se vai fazer. Sua experiência mostra que é importante saber os impactos financeiros na vida pessoal antes de iniciar uma empresa.
O professor Mario Abel Bressan Junior (48) diz que é importante planejar para empreender. “Para quem está começando é pensar assim: o que eu sei fazer? O que eu entrego de valor? O que eu entrego que pode impactar a mim mesmo e impactar as pessoas que estão ao meu redor?”, explica. O planejamento para construir uma empresa ou começar a empreender é importante para que tudo ocorra de forma esperada.
Estratégias financeiras para o sucesso
O planejamento financeiro é um fator que auxilia na motivação pessoal de alguém que empreende. Bressan Junior (48), comenta que a partir dos 50 anos de idade, as pessoas buscam por algo mais específico que gera desafios e auxilia no seu crescimento. “Dentro da neurociência, quando nós criamos expectativas de futuro, quando criamos algo que nos desafia e que projetamos essa expectativa, o nosso cérebro libera dopamina, que nos dá motivação.” O planejamento financeiro então facilita e garante uma estabilidade no seu negócio.
Edla Zim explica que guardou dinheiro suficiente para que ela pudesse trabalhar por três anos sem se preocupar. Nesse tempo ela colocou como meta fazer com que sua empresa de palestras e posteriormente a editora, fizessem sucesso. Zim comenta que criou uma conta bancária com o nome de “Catarina” e que todo dinheiro colocado nessa conta seria para seu empreendimento. “Nada sai dessa conta para uso pessoal, tudo é para o crescimento e sustentabilidade do meu negócio”, afirma.
Editais e financiamentos públicos.
No ramo literário é normal que fomentos públicos façam parte da renda dos escritores. Editais de financiamento como a Lei Aldir Blanc e a Lei Rouanet garantem a existência de projetos culturais que são financiados a partir da renúncia fiscal do Governo Federal. Edla Zim comenta que recebeu a oferta de um financiamento bancário, com taxas de juros menores, para investimentos na sua empresa. Entretanto, preferiu buscar dinheiro com os editais públicos de financiamento cultural.
Livros de Edla Zim
Com sete livros lançados, Edla Zim continua focada na meta de ter 20 livros publicados até os 80 anos de idade. A escritora agora está navegando no universo dos cordéis e pretende lançar seu primeiro cordel no mês de novembro de 2025. Esse tipo de literatura não é comum no sul do país. O berço dos livros de cordel é o nordeste brasileiro e se configuram como um tipo de gênero literário popular, barato e que recebeu esse nome por ficarem expostos em varais de cordão nas praças e mercados nordestinos.
O mercado literário infantil no Brasil
O setor de livros infantis está em alta no Brasil. A literatura infantil cresceu 7% em 2024 e já representa 14% do comércio de livros no país. É a terceira maior categoria de obras vendidas, segurando essa posição desde 2019. Esses dados foram levantados pela Nielsen BookData, a consultoria que oferece dados sobre o segmento editorial no Brasil.
Em uma reportagem escrita pela Fundação Itaú, em abril de 2025, uma pesquisa revela que apenas 45% das creches e pré-escolas realizam os momentos de leitura. Embora 83% das unidades de Educação Infantil possuam livros de histórias, apenas 10% oferecem acesso livre à crianças, 39% das creches e pré -escolas não incluem atividades literárias na rotina, e só 27% fomentam atividades de leitura compartilhada.
O Ministério da Educação (MEC) reforçam a literatura infantil por meio do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para a educação infantil, o MEC e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) adquirem e entregam obras da literatura infantil para crianças de escolas públicas de todo o país. A principal política pública de distribuição de livros no Brasil está levando 13.995.119 exemplares de literatura infantil a escolas públicas que atendem crianças da creche e da pré-escola.
