Países se preparam para apresentar novas metas climáticas (NDCs) antes da COP30 em Belém, mas 80% ainda estão atrasados, conforme a NDC Partnership
A poucos meses da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém (PA) em novembro, a comunidade internacional enfrenta o desafio de acelerar a entrega de metas climáticas atualizadas. De acordo com Pablo Vieira, diretor global da NDC Partnership, mais de 180 países são esperados para apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os planos estabelecidos no Acordo de Paris para combater o aquecimento global.
Apesar da expectativa de um número alto de entregas, cerca de 80% dos países ainda estão atrasados em atualizar seus compromissos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Pablo Vieira, que participou da abertura da Rio Climate Action Week (RCAW), no Museu do Amanhã, mencionou que a lentidão pode ser um sinal de que os países estão buscando metas de maior qualidade, que sejam mais realistas e passíveis de implementação e investimento.
A NDC Partnership é uma coalizão global criada na COP22 para facilitar a cooperação entre governos, organizações internacionais e a sociedade civil, com o objetivo de acelerar a resposta às mudanças climáticas. Vieira ressaltou que, apesar da busca por metas mais robustas, a implementação das NDCs ainda enfrenta dificuldades na maioria dos países em desenvolvimento, e a atual situação geopolítica pode agravar esse cenário.
A Rio Climate Action Week, que acontece até 29 de agosto, conta com mais de 200 eventos organizados por diferentes setores. Na abertura, participações importantes trouxeram à tona a urgência da situação climática. O cientista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, alertou que o bioma está muito próximo do chamado “ponto de não retorno”. Ele destacou a interação perigosa entre desmatamento, degradação, fogo e o aquecimento global, que tem provocado secas profundas e prolongado a estação seca da floresta.
Nobre reforçou que, se o desmatamento continuar e o aquecimento global ultrapassar 2°C, a Amazônia pode se autodefradar em 30 a 50 anos, transformando-se em um ecossistema semelhante ao de uma savana. Esse processo liberaria mais de 250 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera até 2100.
Outra voz de destaque no evento foi a de Taily Terena, cientista social e antropóloga indígena. Integrante do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas e do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das Nações Unidas, ela trouxe a perspectiva de quem vive diretamente os impactos das mudanças climáticas na Amazônia. Natural do povo Terena, no Mato Grosso do Sul, Taily descreveu a diminuição drástica do volume de água nas lagoas naturais de sua aldeia, com os rios que antes permitiam o mergulho agora mal atingindo o tornozelo. Ela também relatou a morte de peixes devido ao calor intenso nas épocas de seca.

Para Taily, a realização da COP30 no Brasil é uma oportunidade para o país mostrar ao mundo que é capaz de ser um protetor das florestas. No entanto, ela enfatizou que a implementação das leis de proteção ambiental só ocorrerá se a sociedade civil e os movimentos sociais cobrarem ações mais concretas dos poderes públicos e do setor privado.
Fonte: Agência Brasil.
