Município gaúcho, único a decretar calamidade, contabiliza estragos históricos e busca apoio para reconstrução.
Após quase duas semanas de chuvas intensas e ininterruptas, os moradores de Jaguari, no Rio Grande do Sul, presenciaram a volta do sol na manhã desta segunda-feira, 23 de junho. Localizada na região Central do estado, a aproximadamente 400 quilômetros de Porto Alegre, a cidade de cerca de 11 mil habitantes é uma das mais atingidas pelos eventos climáticos recentes, sendo, até o momento, o único município gaúcho a ter decretado estado de calamidade pública.
Equipes técnicas da prefeitura estão em processo de levantamento para dimensionar a extensão dos estragos e prejuízos, com uma preocupação especial na área rural. As consequências das chuvas, da cheia do Rio Jaguari e da enchente que assolou o município são consideradas as piores enfrentadas nos últimos 40 anos, superando a situação de maio de 2024. Embora o nível do rio tenha subido mais em 1984, resultando na destruição de casas em áreas alagadiças, o cenário atual é descrito como o pior em termos de inundações, destruição e prejuízos, principalmente devido a uma enxurrada que atingiu locais até então não afetados.
Diversas pontes e pontilhões foram arrastados pela força das águas. Estima-se que aproximadamente 80% dos mil quilômetros de estradas rurais do município estão intransitáveis. Em algumas áreas, a força da água removeu calçamentos, derrubou muros e invadiu residências. Em certas casas na área central da cidade, foi encontrado quase um metro de areia após a vazão da água.
Moradores de ao menos 300 imóveis foram forçados a deixar suas casas. A estimativa inicial aponta para a existência de pelo menos 1.200 pessoas entre desabrigados e desalojados. No entanto, a precisão desse número é desafiadora, visto que, em uma cidade pequena onde as pessoas se conhecem, é comum que quem precisa deixar suas residências procure abrigo diretamente na casa de parentes ou amigos, sem o registro imediato da Defesa Civil.
Os técnicos da prefeitura projetam que serão necessários no mínimo R$ 20 milhões para reparar a infraestrutura destruída e prestar auxílio emergencial às famílias afetadas. Essa quantia é considerada o valor mínimo para a reconstrução de pontes, pontilhões, bueiros, ruas, estradas inacessíveis e casas danificadas. A expectativa é que o valor ultrapasse os R$ 20 milhões, e o município dependerá do apoio dos governos estadual e federal para conseguir se recuperar. Um plano de trabalho detalhando as obras necessárias será apresentado em breve às Defesas Civis estadual e nacional.
Além da reconstrução, há uma preocupação em oferecer soluções de longo prazo para os moradores. Estudos técnicos estão sendo conduzidos em parceria com uma empresa de engenharia para explorar opções como a construção de diques e obras de desassoreamento do rio, visando aumentar a cota de inundação próxima à cidade. O objetivo é evitar que, em um curto período, a água invada novamente as residências em múltiplos momentos.
No cenário estadual, 132 dos 497 municípios gaúchos já comunicaram à Defesa Civil estadual sobre algum tipo de dano ou transtorno decorrente das chuvas das últimas semanas. Quatro mortes foram confirmadas nas cidades de Aratiba, Nova Petrópolis, Sapucaia do Sul e Candelária, onde um homem permanece desaparecido desde a última terça-feira, 17 de junho. Um quinto óbito, em Santa Tereza, na Serra Gaúcha, está sendo tratado pelas autoridades como um acidente de trânsito não diretamente relacionado às chuvas.
Até as 9h da manhã de hoje, a Defesa Civil estadual registrava 6.258 pessoas desalojadas e 1.071 desabrigadas em todo o estado. Pessoas desalojadas são aquelas que temporariamente se deslocaram para casas de parentes, amigos, hotéis ou pousadas, enquanto desabrigados são os que necessitaram de abrigos públicos ou instituições assistenciais.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma frente fria atua sobre a Região Sul do país, provocando mais chuvas entre o norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e o sul do Mato Grosso do Sul, além da faixa sul de São Paulo. Há um alerta de perigo para ventos costeiros em grande parte do litoral riograndense até a tarde desta terça-feira, 24 de junho, incluindo a região metropolitana de Porto Alegre. A ocorrência de temporais é esperada novamente no Rio Grande do Sul e no Paraná, e os termômetros devem registrar queda acentuada, com condições de geada em toda a Região Sul, podendo se estender para algumas áreas do Mato Grosso do Sul e de São Paulo.
