Opinião
Mais um caso de feminicídio em Santa Catarina. A esteticista Mikaella Sagas foi encontrada morta no último sábado (10/05) em sua casa no Bairro Fundos em Biguaçu (Grande Florianópolis). O crime causou comoção nas redes sociais. O suspeito é seu companheiro, Sandro Machado Júnior, de 23 anos. Na noite do crime ele utilizou o carro de Mikaella para ir em uma festa. Segundo a investigação ele entrou em contato com familiares utilizando o celular da vítima. Uma amiga do casal encontrou o suspeito na festa e ao questionar sobre a namorada, ele teria respondido que haviam terminado. Ela notou um corte na mão de Júnior, fato que levantou suspeitas.
O fato é que Júnior está foragido. Entretanto, a “capivara” do suspeito é grande. Entre outras coisas ele tem passagens na delegacia por tráfico de drogas, lesão corporal, posse de drogas, roubo e receptação. Ou seja, boa coisa o cidadão não é.
Reprodução Tik Tok da vítima.
Apesar do suspeito ter uma longa ficha criminal. Não é crime você ter um relacionamento amoroso com ele. Mikaella Sagas tinha todo direito de namorar com quem ela quisesse. Obviamente que o senso comum nos força a pensar o contrário. A circunstância é que a mulher, aparentemente, era uma pessoa bem sucedida. Em seu Instagram e Tik Tok, em mais de uma postagem ela diz que “tem 28 anos, pós-graduação e que é empresária bem sucedida”. Ou seja, poque então uma pessoa “do bem” se envolveria com um criminoso?
Em uma postagem fixada no seu perfil do Tik Tok ela diz que “Gosto de homem perturbado igual eu, que me ameaça pelo olhar e fala que se me ver com outro mata nós dois, se for sonso eu tô fora”. Essa postagem tem mais de 21 mil visualizações e 1500 comentários no momento que escrevo esse texto. E é ai que a tampa do bueiro é aberta e o esgoto humano transborda.
Praticamente todos os comentários transformam a vítima em culpada pelo crime e tratam o feminicídio com desdém. O “KKKKKK”, usado para gargalhar, é o que mais tem sido publicado nas redes sociais da vítima. Perfis que talvez nem sejam mais dela e que podem ter sido clonados por “trolls” da rede. Entretanto, o mais comum são insinuações que ela “ganhou o que procurou”
Ninguém deveria achar que uma pessoa assassinada é culpada da própria morte por causa de sua escolha amorosa. O cidadão que praticou o crime, independente de qualquer circunstância, é o culpado. Simples assim. Mas, no estado campeão de feminicídios (Sim, Santa Catarina é o estado com mais casos no país) o normal é culpar a vítima pelas suas escolhas. Se foram escolhas erradas, e aqui parece que foram, isso não a transforma em culpada.
O fato é que o cidadão ou cidadã se esconde atrás de um suposto anonimato da internet para vilipendiar uma pessoa morta. Se ela quis se relacionar com alguém que ela sabia que tinha problemas criminais, o problema é dela. Se ela optou por namorar um “bandido” e não um coroinha o problema também é dela. Entretanto, um fato que devemos frisar é que a maioria das vítimas de feminicídio não foram mortas por homens com ficha criminal e sim por maridos ou companheiros violentos que nunca sequer entraram em uma delegacia.
Nas imagens podemos ver algumas piadas e o clássico defensor da família e dos bons costumes. Todos culpando a vítima pelo acontecido. Optei por não esconder os autores dos comentários, porque as plataformas sociais são ambientes públicos e se alguém se permite aparecer nesse ambiente cometendo crimes, não é papel do Jornalismo não mostrar quem está fazendo comentários ofensivos. E sim, o artigo 212 do Código Penal pode considerar esses comentários como crime.
Espero que a Polícia Civil prenda o suspeito e que ele pague pelo que fez na cadeia. Ah, mas se você acha que as penas são brandas, então cobre o seu Deputado Federal sobre esse tema.
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